Nos meus trinta e um anos de
evangelho e nove na vida pastoral, nunca havia ouvido tanto de pastores em
crise como estou ouvindo atualmente. Sem contar a onda de suicídios e os que
estão desistindo do ministério pastoral. Acredito que o número dos casos
citados pode ser ainda maior, mas que não foram revelados.
O que realmente está acontecendo?
Quem tem a resposta correta?
CRISE DA FAMÍLIA X IGREJA
Acredito que a correria para se
dividir entre família e igreja tem sido o carro chefe dos problemas da crise
pastoral. Primeiro porque para manter a família é preciso dinheiro que será de
acordo com a qualidade de vida de cada pastor.
Segundo, para manter a igreja é
preciso que membros e congregados sejam participantes com dízimos e ofertas
para manter as despesas relacionadas a mesma. Quando os membros entram em crise
financeira 90% não cortam e nem diminuem despesas com TV a cabo, Internet,
Lazer, Animais doméstico, e itens supérfluos. Cortam de imediato os dízimos e as
ofertas. A contribuição para a obra são substituídas por sobras às quais
considero como esmolas. Forte isso não é mesmo? Mas é meu ponto de vista.
Quando a igreja não cobre as
despesas, o pastor se vê na condição de mantê-la e ai tem que envolver a renda
familiar, que muitas vezes já está no limite. Dai se inicia a crise pastoral.
CRISE DA FALTA DE LAZER
Outro ponto que vejo é que os
pastores e famílias são privados de fazer o que realmente gostariam de fazer em
relação a lazer. Lembro-me de um filho de pastor que me disse que o pai depois
que passou a ser crente a casa deles virou um cemitério. Não tinha mais os
amigos, festas, não viu seu pai dançar mais com sua mãe, não assistiam mais
filmes juntos, entre outras proibições que a igreja pregava ser pecado. Já fui
em vários passeios evangélicos e pude ver como 90% dos membros das igrejas e
pastores são bons de sinuca, totó, tênis de mesa, nos jogos de tabuleiros,
entre outros que se um dos pastores tivesse sinuca em casa poderia perder uma
parte da membresia e ainda ser mal visto pelos colegas do seu e de outros
ministérios. Colegas esses que queriam também participar das mesmas atividades,
mas que não praticam para não causar “escândalo”, mas se um dia desistir do
ministério, pode ter a certeza que vai direto praticar tudo aquilo que estava
com vontade e não fazia para não perder a moral com a capa que vestia diante o
público que o cerca.
Quando estes mesmos pastores
estão longe de casa e do seu rebanho, tipo em outro estado, a primeira coisa
que fazem e pedir uma cerveja ao som de uma boa musica ao vivo. Depois pedem
perdão a Deus, voltam para a sua congregação para julgar “os fracos na fé”.
Isso não é utopia e pura realidade.
vejo aqui dois extremos onde de
um lado tem um grupo de pastores que prega mais o que não pode do que pode para
os membros da igreja. Na outra extremidade tem o que pode tudo, até tomar uma
cervejinha entre eles. Acredito que os dois lados estão em crise a qual em
qualquer momento vai aflorar.
CRISE DE IDENTIDADE PAIS E FILHOS
Um pastor amigo dizia em seu
sermão que os pais dele o levava para a igreja com seus três irmãos e todos
ficavam sentados do inicio ao fim do culto e não levantava nem para ir ao
banheiro nem para tomar agua. Lembrava ele que não existia departamento
infantil na época e caso se comportasse mal na igreja, em casa eram
repreendidos e podiam até levar umas palmadas. Todos hoje estão na igreja.
Estamos vivendo uma geração onde
não são mais os pais que levam os filhos para a igreja, são os filhos que
escolhem uma igreja que melhor lhe agrada e leva seus pais. Na maioria das
vezes a igreja que agrada não é mais a igreja que tem uma boa palavra, tem que
ter uma boa palavra e que fale o que o povo goste e não o que é preciso falar,
que faça o povo rir mais do que sair pensando na sua condição espiritual.
Não estou aqui defendendo uma denominação e acusando outra, estou apenas querendo mostrar que muitos pastores perdem seus filhos para denominações que tem algo a mais que o satisfaça e que o seu "paistor" não aceita. O pastor que perde seus filhos para outra denominação, pode até não dizer nada, mas não venha me dizer que pra ele está tudo bem. O que ele vai dizer para os jovens da igreja dele? Ser pastor com filhos pequenos antes de se tornarem adolescentes é uma coisa. já vi pastores mudar toda a estrutura da igreja, inclusive a pregação depois que seus filhos se tornaram adolescentes para não vê-los indo embora da denominação.
CRISE DA IGREJA VIRTUAL PARA
DESIGREJADOS
Estamos vivendo uma geração onde
ser desigrejado e melhor, pois não tem que dar dez por cento do que ganha, pode
cantar musicas mundanas nas redes sociais, em rodinhas de amigos, frequentar
barzinhos sem precisar dar satisfação a ninguém.
Hoje o mais importante para quem
frequenta igreja não é agradar a Deus e sair do culto dizendo que foi muito
bom, atingiu todas às expectativas. Sem contar a opção de pregadores na
internet, onde se escolhe o tema e o palestrante e ouve exatamente o que agrada
e fica na sensação de ter ouvido a palavra certa. O que mais se vê hoje nas
redes sociais são pessoas que não tem compromisso com igreja nenhuma postando
versículos bíblicos, vídeos dos seus pregadores preferidos, entre outros
assuntos que comprovam que servem a Deus da sua maneira e estão muito bem
obrigado.
Um casal de pastores me disse que não faz mais culto gravando ao vivo pelas redes sociais, porque os membros deixavam de ir para o templo, alegando que era mais confortável e seguro ficar assistindo em casa.
Dá mesma forma que o e-commerce (compras pela internet) tem crescido, acredito que o e-culto (igreja virtual) tem seu público garantido.
CRISE DO COMBO PERFEITO
O que a igreja do meu amigo está
oferecendo melhor que à igreja que eu frequento? Tal geração está afetando a vida
pastoral que está perdendo força para acompanhar o ritmo frenético dos cultos show. E para
manter os membros, fazem o que eles pedem ou perderão para a igreja
“concorrente” (desculpe a expressão) que já tem um combo perfeito para cada
família que chega.
Certo dia um pai de um jovem
me ligou dizendo que ninguém da família tinha feito tatuagem, até que o
jovem começou frequentar uma igreja e em certo culto o pasto arregaça a manga
da sua camisa e mostra que fez uma tatuagem com o nome Jesus. O que aconteceu?
Isso mesmo o jovem chegou em casa com uma tatuagem igual a do pastor. Certamente
muitos membros de outras igrejas que não podiam fazer tatuagem, foram pra lá e
outros que não aceitaram saíram em busca de um novo pastor.
Tenho visto pastores acusando
outros por causa de eventos e atividades que os colegas permitem em suas
denominações, tem pastores que dizem: Aqui não se faz sem João com Cristo, mas
faz noite do rock, reggae, entre outros ritmos. Outros dizem que não concorda
com grupos de dança, mas usa a nave do templo para ensinar artes marciais. Acredito que cada um vai prestar contas a deus
pelo seu rebanho e que não precisa antecipar o julgamento.
PASTOREIO DE PASTORES A CLÍNICA PASTORAL
Acredito que o caminho para
enfrentar a crise pastoral é a unidade, e no pastoreio de pastores tenho
encontrado amigos que muito me orientam em tempos de crise e eles dizem a mesma
coisa. Temos desfrutado de momentos de lazer, orações, estudos, entre outras
atividades em parceria denominacional. Não que seja o lugar perfeito, mas que meu círculo de amizades cresceu quando comecei a participar das reuniões.
Poderia citar muitas outras crises, algo que farei em outro momento.
Texto retirado do livro: Sou
pastor e agora? (lançamento em breve)